Chegou então o ultimo dia. Acordar de manha e saber que faltam cerca de 50 km para terminar meu grande desafio me deixa muito feliz e ao mesmo tempo uma saudade imensa de tudo que passei aqui. Acordei de manhã e logo já estava tomando cafe e preste a sair. Na saida os paulistas que estavam também hospedados arrumaram uma confusão com a senhora do hotel. Um diz e não diz e exaustados os nervos por causa de R$ 5,00 reais a mais que a senhora cobrou do combinado. Transtorno causado pelo uso sem autorização destes ciclistas da cozinha do hotel, os mesmos fizeram seu jantar no local. Ainda bem que eu já tinha pagado na hora da entrada e não tinha nada a ver com aquela confusão fui logo saindo.Meio decepcionado com toda a confusão não queria que isso estragasse meu ultimo dia de pedal. Saímos rumo ao topo da serra, só queria então ver o mar. Algumas descidas no inicio e depois começaram as subidas. Na parte inicial os ciclistas vieram junto comigo e seguimos juntos. Até o ponto que cheguei na cachoeira do Pimenta, lá não avistei mais eles e decidi descer até a mesma para fotografar e conhecer sua queda. Também existe no lugar uma usina desativada, onde é possível ver turbina, alternadores e outros elementos que em conjunto usavam a força produzida pela água para gerar energia. Daí para frente foi só subindo, algumas subidas longas mas com inclinação não tão forte. A vegetação começou a mudar e acompanhado de leves descidas novas subidas apareciam. O tempo estava bom, e uma chuva ameaçou a cair, porem ficou só na ameaça.Fiz uma paradinha para comer um doce e contemplar uma bela vista que tinha do meio da serra. Aproveitando ao máximo este meu ultimo dia de Estrada Real. Mais alguns quilometros pela frente e cheguei ao asfalto que liga Cunha a Paraty. Avistei então os três ciclistas e fomos seguindo juntos rumo ao topo da serra. Neste trecho precisei tirar o meu freio traseiro, já que a roda estava um pouco empenada. E fomos seguindo até a cachoeira que fica na beira da estrada. Dali para frente era apenas uma questão de tempo para chegar ao topo e alcançar os 1450 metros de altitude. Avistar a placa da divisa de estado foi muito bom. Esperei os outros ciclistas para então largar os freios até Paraty. Dali para frente era só uma descida longa e uma parte plana. Já sentia minha conquista muito perto e a alegria de tudo ter dado certo até ali e de estar ali já tomava conta. Pena que a descida esta sendo arrumada e vai receber calçamento. Logo logo o transito de veículos ali sera maior e perderá o encanto. Na descida muitas maquinas e trabalhadores para tudo quanto é lado, andaimes e muita obra sendo executada. Um dos mirantes estava tomado por obras e não foi possível parar para curtir o visual. Na descida me distanciei dos outros ciclistas. Fiz uma parada de uns 5 minutos para espera-los mas nada de aparecerem. Então como queria aproveitar a descida continuei descendo até o final. Na descida boas lembranças, felicidade de estar ali e completando meu grande desafio e um dos meus sonhos sobre as duas rodas. Senti o vento no rosto naqueles últimos quilômetros e aproveitei ao máximo minhas ultimas pedaladas. Pedaladas estas que curti ao máximo. Pernas???? Minhas pernas nem pareciam ter girado durante aproximadamente uns 1150 km. Diamantina, Ouro Preto, Tiradentes e tantas outras cidades ficaram para trás. Na minha memoria um pouquinho de cada encanto que senti em cada uma delas. Aos amigos que fiz durante esta jornada, em especial ao Fernando de Bom Jesus de Amparo que esteve me acompanhando desde o inicio mesmo sem me conhecer, a Débora e sua mãe da pousada dos Reis em Capela do Saco, se todos os comerciantes da estrada real tivessem o entusiasmo de vocês, a Estrada real seria melhor ainda. Agradeço ao apoio do Jiuliano de São Lourenço que me atendeu muito bem e me ajudou muito na hora de trocar um simples pneu. Agradeço a companhia dos outros ciclistas que assim também como eu, resolveram deixar a sua zona de conforto e encarar algo mais desafiador. Ao Regis e sua esposa que mostraram sua união no pedal, ao grande ciclista caipira de Taubaté, o Ronaldo, que fez o nosso caminho ter a melodia das grandes musicas de Almir Sater e outros cantores caipiras que se eu for citar aqui poucos conheceram. Pena sua dor no joelho ter sido maior e numa decisão sensata abortou para uma próxima oportunidade a conclusão da estrada real.
Agora estava eu ali, poucos quilometros para encerrar minha vitoria. Já podia sentir a brisa do mar e aquele ar característico de litoral. Percebi que os sonhos são mais fáceis de se realizar quando levantamos do sofá e por mais louco que pareça ser devemos encarar. Fazer a estrada real me mostrou muitas coisas, fazer sozinho me fez pensar muito e dar valor as coisas que ainda não dava e as que eu já acreditava agora defendo com todas as forças. Cada gole de água que me mantia hidratado, água que eu via correr pelo meu corpo e escorrer em forma de suor, cada sombra que em um sol de 45º C parecia fortalecer meu corpo e me dar mais coragem e força para continuar. Tesouros? Vários!!!!! Minha mãe, minha namorada Vivian, meus grandes amigos, meus companheiros de trabalho. Carreguei todos comigo. Pelo caminho garimpei sabedoria, novos amigos, alto conhecimento, paciência, sombra, água fresca, felicidade em ter saúde para poder fazer tal feito e compartilhar cada um dos momentos. Voltei mais rico!!!! Realmente pedalar pela estrada real trás muitos sentimentos, a alegria de estar ali chegando no ultimo marco me fez realizado.
Já podia avistar o chafariz no final e também minha namorada que me esperava tomando um sorvete.
Feliz demais, completei então o Caminho dos Diamantes e o Caminho Velho. Me orgulho de ter conseguido fazer todo o percurso original de acordo com o instituto estrada Real. Já podia sentir saudade de tudo que viverá até aqui. Eu venci.
Não sei bem explicar, mas pedalei durante 17 dias sem tomar nenhuma chuva, porem cerca de 1 hora depois que cheguei em Paraty o céu desabou, caiu uma forte chuva. Acho que é uma prova que meus santos e Deus esteve me acompanhando e protegendo.
Agradeço a todos que me incentivaram, que mandavam mensagens de incentivo via face ou pelo blog, minha namorada que fez o apoio quando possível, minha mãe que mesmo contraria no inicio percebeu que isto tudo me fazia bem e me deixava feliz, então como dizem, toda mãe que ver o filho feliz e então estava tudo bem. agradeço a minha equipe que infelizmente desta vez não pode me acompanhar devido a compromissos, vontade sei que não faltava. Ao Guilherme, Kadú, Waslen, João Vitor, Cris e tantos outros que pedalam comigo. Essa conquista é para vocês, para nossa equipe, onde carreguei a nossa camisa e nossa bandeira. Valeu meus amigos.
Aos amigos do meu serviço, Rogerio, Paulão, Tiago, Djalma e tantos outros que acompanharam esta aventura e se preocupavam comigo. fica aqui um convite para um dia fazermos uma viagem desta.
A Estrada Real foi conquistada, ainda não me sinto da realeza mas quem sabe um dia, pois ainda falta o Caminho Novo e o Sabarabuçu.
E ai qual será a próxima aventura?????
Pousada de Cunha.
Cachoeira do Pimenta.
Adeus São Paulo, nosso convívio foi breve e bom enquanto durou.
Obras e obras.
Paraty.
Fim oficial.
Algumas voltinhas pelo centro histórico.
Ao fundo as nuvens já se preparavam para descarregar uma chuva daquelas.